Tornei-me uma turista mais cautelosa
Sempre disse que os atentados não me iriam demover de viajar e de mostrar o mundo aos meus filhos. Sempre o disse e a verdade é que continuamos a fazê-lo dentro das nossas possibilidades. Não tenho dúvidas que estas experiências são muito mais enriquecedoras para os meus filhos do que quaisquer brinquedos que lhes possa oferecer. Para além disso, quero que o Vicente e Laura se sintam cidadãos do mundo, livres para voar em qualquer direcção.
No entanto e apesar de lutar com tudo aquilo que tenho para não me deixar demover pelo medo, quando estávamos a tratar desta viagem, dei por mim a perguntar ao meu marido coisas como, por exemplo, se iríamos andar de metro ou, então, a convencê-lo a optarmos pela casa mais distante do centro da cidade. Felizmente, tivemos muita sorte com a localização da casa que escolhemos, pois fora o preço fantástico e o bairro em si, está relativamente próxima dos locais mais relevantes a visitar em Milão.
E a verdade é que temos feito tudo a pé, fora as deslocações para a estação dos comboios e para o aeroporto que fazemos de táxi. Temos andando muito, também é verdade, mas sem ser doloroso, os passeios são agradáveis e mal damos conta dos (muitos) quilómetros que fazemos. O tempo, por seu lado, tem ajudado ou somos nós que nos adaptamos facilmente a ele. Faz frio, mas com roupa adequada suporta-se bem e ainda não choveu. E, de alguma forma, não andar de metro deixou-me mais tranquila.
Mas ontem, o dia que reservamos para visitar o centro de Milão com a obrigatória passagem pela Duomo fez-me sentir alguma ansiedade. Sexta-feira, dia da Imaculada Conceição, feriado e sendo Itália, um país bastante ligado à religião, não nos passava pela cabeça a quantidade de pessoas que iam andar por ali. Era tanta, mas tanta gente que era impossível andar. Fora as feiras e os mercados que encontramos pelo caminho, com estradas cortadas, e tudo no nosso trajecto até casa. E os italianos não são como nós, eles gostam de sair à rua, adoram passar tempo fora de casa e de estar uns com os outros socialmente. Por algum motivo, são eles os verdadeiros criadores do Appretiv, um costume de passar por um bar e tomar um Spritz Aperol e comer qualquer coisa a seguir a um dia de trabalho e antes de voltarem a casa - uma espécie de pré-jantar fora de casa.
Tentei abstrair-me dos meus pensamentos, mas talvez por estar ali com os meus filhos, senti receio. Tive medo que um maluco qualquer aparecesse ali no meio daquela multidão. Pode parecer uma estupidez, mas já quando tinha estado no Nos Alive e me vi encurralada no meio de tantas pessoas e de tantas mais que chegavam para o concerto dos The Week'nd, sem espaço sequer para espirrar, pedi ao meu marido para sairmos dali imediatamente.
Não vou viver com medo, nem tão pouco vou deixar de viajar, mas também não contava sentir-me assim sobretudo quando estou no meio de grandes multidões. Não tenho qualquer histórico com ataques de pânico ou de ansiedade, também não consumo notícias negativas nem fico a remoer sobre este tipo de acontecimentos. E sim, eu também sei que as coisas acontecem sem lugar ou hora marcada. Mas estupidamente, parece que cá dentro, parte de mim cedeu ao terror que andam a tentar espalhar pelo mundo. Ainda assim, não será motivo para me fazer abdicar da minha liberdade (e da da minha familia) de andarmos por onde quisermos. No entanto, talvez com uma consciência diferente da que tínhamos antes, e igualmente mais cautelosa. E, talvez assim, me tenha tornado uma turista um pouco menos espontânea e muito mais cautelosa.
Entretanto, hoje já andámos de metro. Foi o dia mais frio desde que chegamos e estava mesmo muito frio. E não é só "terror" :) tenho coisas boas a dizer sobre esta experiência: existem elevadores (a funcionar) em praticamente todas as estações; há sinalização no chão que disciplina as pessoas para deixar sair primeiro as outras que chegam ao seu destino, em vez de se forçar uma entrada a todo o custo - para mim, seria algo básico, mas pelos vistos não é para a maioria das pessoas - e os bilhetes de metro custam 1,50 euros por pessoa.