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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

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Pão por Deus | Mãos na massa e broas quentinhas

29.10.17 | Vera Dias Pinheiro

 

Brincamos ao Halloween, mas a tradição que levamos mesmo a sério é o Pão por Deus. Desde miúda, que o cheiro das broas de mel da minha mãe me acompanha, com a certeza de que não existem outras iguais. E, desde miúda, que recordo o som das campainhas a tocar, as vozes e os passos apressados das crianças que andavam, prédio acima e prédio abaixo, a pedir o “pão por Deus. Eu própria o fiz, bem mais miúda, na aldeia da minha mãe, a cerca de vinte minutos do centro da cidade de Santarém.

 

Considero-me uma pessoa religiosa q.b e embora não seja praticamente, os princípios e as bases estão cá. Mas, acima de tudo, existem tradições, as quais faço um esforço por não as deixar cair no esquecimento, especialmente agora que tenho filhos. Para mim, são, de certa foram, estas pequenas coisas que dão forma e cor à nossa história e às nossas origens.

 

No ano passado, convenci a minha mãe a recuperar a sua receita antiga de broas. Sou suspeita, mas não existem outras tão boas como as dela. Quem se lembra? Foram tantos os pedidos da receita que acabei, mais tarde, por publicá-la neste post: As broas da avó | A receita

 

É uma receita que dá trabalho, sobretudo a parte de amassar, por isso tive que recorrer aos netos para efectivamente a convencer. O Vicente, contrariamente a qualquer expectiva que tivesse, entusiasmou-se de tal forma que não arredou pé de junto de nós, meteu a mão na massa e fez as “bolinhas” para levar ao forno. No dia seguinte, ia cheio dele mesmo, com o seu saquinho de broas para levar para partilhar na escola.

 

E foi de tal forma marcante para ele que passou o ano todo a falar nisso, pelo que, mesmo que quiséssemos, não havia forma de escapar à tradição. Convidamos a melhor amiga, metemos a cozinha virada do avesso, a avó ficou de rastos, mas continua a valer tanto a pena retomar estes momentos e explicar a sua importância. No final, é mais uma prova de entre ajuda entre todos. Afinal só come quem ajudar. 😊

 

Continuam a ser as melhores broas que já comi, não existem outras iguais – e com isto já começo a tornar-me repetitiva, não é? Mas são mesmo, não é por ser minha mãe e não é por serem feitas por nós. E se foram já afoitas pegar na receita, aviso que dão trabalho. Contudo, pergunto se não serão momentos como estes que contribuem para fortalecer os laços de uma família?

 

Na minha opinião, sim e mesmo que a avó refile sempre um pouco, a verdade é que acaba por partilhar sempre do nosso entusiasmo. A avó refila e tem razão, pois grande parte do trabalho cabe-lhe a ela ou não fosse ela a grande responsável por tudo isto se tornar real. É ela que tem a mão forte para amassar a massa e é ela que consegue decifrar a receita que ninguém tem coragem de tirar daquele papel tão vincado, já meio rasgado e cheio de manchas de azeite. É ela que sabe quando é que a massa está no ponto e é ela que, no fundo, tem aquela paciência que só as avós conseguem ter – e que ninguém ainda descobriu onde é que elas a vão arranjar, certo?

 

Este foi “o” momento do nosso fim-de-semana; a hora mudou, mas nem aquela hora extra foi sinonimo de dormir mais, nem mesmo quando o Vicente só acabou por ir para a cama já muito depois da sua hora. Antes das 8h já o tinha junto a mim a dizer-me que tinha fome. Seguiu-se a irmã e, num derradeiro e ultimo esforço, tentamos enfiá-los aos dois na nossa cama e ver se dava para descansar mais uns minutos. Não houve jeito!


Mas atenção, eu não me esqueço da cadeira de refeições da irmã transformada num quadro de Monet, assim como mais duas partes espalhadas por outros dois cantos…. Da parede! Fiquei em choque por ser uma atitude que n-a-d-a tem a ver com o perfil do Vicente. Ainda em relação a isto, deve ter ficado com tanto peso na consciência que, no dia seguinte de manhã, ofereceu-se para arrumar todo o escritório (aka quarto dos brinquedos) sozinho, coisa que, alías, fez com distinção.

 

"Estás orgulhosa de mim, mãe?", foi a pergunta que ele me fez no final... óbvio que sim, mas mais importante é perceber que, no fundo, tu sabes o que é para fazer e sabes como o fazer.

 

Boa noite e bom início de semana, esta um pouco mais curta.

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