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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Coisas absurdas que os pais pedem aos filhos

27.10.17 | Vera Dias Pinheiro

Às vezes tenho perfeita noção de que esta coisa de ser mãe (e pai) nos leva a pedir coisas um pouco absurdas aos nossos filhos. Talvez porque a responsabilidade de educar uma criança nos leva a tratá-las como se de pessoas adultas se tratassem, com o entendimento de pessoas com todo um outro nível intelectual e de maturidade.


Tentamos impor regras para as suas próprias brincadeiras; sentamo-nos com eles munidos com todas as instruções dos jogos, seguimos à risca os modelos que acompanham apenas para servir de exemplo. Quando, na verdade, as brincadeiras servem maioritariamente para estimular a criatividade, a concentração e o convívio na família.


Pedimos que falem demasiado baixo, que gesticulem pouco, que falem de menos, que adormeçam em segundos, que comam tudo, sem pensarmos que nós próprios nem sempre temos a mesmo apetite. Exigimos a perfeição quando ela não existe nem para nós próprios.


Usamos frases demasiado complexas, sem pensar que algumas das palavras eles nem sequer sabem o que quer dizer. Esquecemo-nos que estamos perante um ser humano que tem estados de humor que também oscilam; dizemos que só avisamos mais uma única vez, como se eles tivessem a capacidade de perceber tudo o que lhe dizemos e, sobretudo, de fazer tudo o que lhe pedimos.


Somos pais, por vezes, um pouco ditadores que nos importamos mais em exigir do que em aproveitar um tempo que não volta atrás e que passa à velocidade da luz. Ser mãe de dois tem me trazido alguma tranquilidade neste aspecto. A fera das rotinas foi forçada a entender que não existem princípios universais e que somos nós a ter que nos adaptar a personalidade de cada filho, ao invés serem eles a ter que se adaptar à nossa.


Estaremos sempre a rumar contra a maré caso entendemos que o nosso papel é impor regras, explicar o que está certo e o que está errado a toda a força. Se nos colocarmos no lugar deles, facilmente percebemos que nós próprios não seriamos capazes de fazer aquilo que muitas vezes exigimos.


Às vezes tenho perfeita noção de que esta coisa de ser mãe (e pai) nos leva a pedir coisas um pouco absurdas aos filhos. Vocês não?


E a propósito deste assunto, quem se lembra deste post: Filhos: os primeiros (e exigentes) anos são para os pais ?


Boa noite.


  
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Tirei dois dias de férias sem pré-aviso

27.10.17 | Vera Dias Pinheiro

Trabalhar por conta própria tem que ter algum tipo de privilegio, para mim, foi poder tirar dois dias de férias sem pré-aviso e a meio da semana. Acordei há hora do costume, despachei os miúdos como de costume, o Vicente foi para a escola com o pai como de costume, a Laura ficou com a avó como acontece sempre que preciso de ajuda para conseguir trabalhar ou quando tenho algum evento ou compromisso importante. Assim que fiquei sozinha em casa, voltei para a cama e dormi mais umas duas horas bem à vontade. Dormi como já não me lembrava de ter dormido, acordei como já não me lembrava de acordar: em silêncio e sem ninguém aos berros ou a exclamar sem parar "tenho fome", "a rua já está azul, mãe, levanta-te". E eu, rebolando da cama e ainda de olhos fechados, levanto-me.


Esta quarta-feira decidi unilateralmente que merecia estes dois dias de mais ou menos férias, afinal, tem que haver algum tipo de vantagens no facto de trabalhar por conta própria e ser o patrão de mim mesma. Não disse nada a ninguém para não sentir qualquer tipo de peso na consciência ou remorso. O facto de trabalhar em casa acaba por estar sempre associado maioritariamente a uma série de vantagens e regalias, que tem, sem dúvida, mas nem sempre nos lembramos de olhar para o outro lado, nem eu própria tinha a noção antes de trabalhar por conta própria. A pressão de, se não formos nós, mais ninguém faz, a dificuldade em criar um horário fixo de trabalho, acabando por transformar todos os dias do ano em dias de trabalho, são algumas dessas coisas que estão no "outro lado". No fundo, como qualquer outro trabalho, existem prós e contras.


Estes dois dias férias serviram basicamente para dormir aquele extra de manhã, pois, na verdade, continuei a trabalhar e fazendo um balanço desta semana, foi até bastante interessante. Com a necessidade de estar sempre a criar conteúdos novos, falta-me tempo para outras coisas igualmente relevantes, como ser proactiva na procura de oportunidades que tornem tudo isto que eu faço algo rentável. Pois, sejamos honestos, não existe um mundo cor-de-rosa, a verdade pura e dura é que, ao final do mês, há responsabilidades a cumprir, há toda uma família e uma casa para sustentar. No entanto, decidi que nestes dois dias ia retirar de cima de cima de mim a pressão do conteúdo, das horas certas das publicações e tudo mais que envolve a criação de um post até ele seja finalmente publicado. Sabiam que, por exemplo, no meu dia-a-dia, eu também sou administrativa e contabilista?


Mas não foi fácil sentir que "está tudo bem!" que, afinal, como qualquer outra pessoa, eu também preciso de momentos em que paro, limpo a cabeça, encontro novas ideias e inspirações para voltar a escrever. Um dos conselhos que me deram e que nunca esqueci foi: escreve quando sentes que tens um conteúdo suficientemente interessante, não publiques apenas pela obrigação de o fazer. E nem sempre cumpro, mas, desta vez, consegui.


No entanto, outra das razões que me levou a autorizar estas mini férias a mim mesma a meio da semana, à socapa, sem ter dito nada a ninguém, sozinha em casa, foi precisamente sentir que há cinco anos que eu não consigo parar de verdade. Nestes cinco anos de maternidade só fiquei sem filhos uma única vez, tinha o vicente dois anos e meio e fomos ate à cidade do Porto passar dois dias.


E fazendo uma retrospetiva a este período da minha vida tem sido mais ou menos isto: eu engravidei, tive o Vicente, veio o pós-parto, mãe a tempo exclusivo, mudei de país e o nosso núcleo erámos nós os três; quando o Vicente estava a ficar mais crescido e autónomo, permitindo-nos mais alguma liberdade e regressados a Portugal, decidimos que era o momento de pensar no segundo filho, engravido, com todo aquele processo hormonal, emocional e psicologicamente delicado para o conseguir, a Laura nasce e eu passo praticamente um ano sem dormir.


Sabemos que com filhos à nossa volta há sempre alguma coisa para fazer, não existem tempos mortos, não existe silêncio e há pouco espaço para que, parte da nossa vida, se desenrole um pouco mantendo a nossa individualidade. Na verdade, até me sinto um pouco egoísta ao dizê-lo, mas sentir falta destes momentos, não nos torna melhores ou piores pais. Aliás, acho que nos torna pessoas mais conscientes por sabermos que para o nosso equilíbrio e para que as pessoas à nossa volta recebam o melhor de nós, é preciso que o nosso eu esteja em "paz" e tranquilo. E talvez agora que sinto que fechei o ciclo da maternidade, que isto se tornou mais presente, sinto falta de ter momentos de liberdade para além daquelas duas ou três horas em que fugimos para almoçar ou jantar.


Mas onde tudo isto se torna ainda mais evidente é nos momentos em que atingimos aquele cansaço extremo em que nós próprias entramos num loop em que já não conseguimos tolerar uma birra ou outro tipo de comportamento sem levantar a voz. E o pior é que sabemos que estamos a ser injustas e que apenas estamos a descarregar. E eu andava assim a gritar de mais e com paciência de menos.


E foi assim, tirei dois dias de férias para basicamente dormir uma manhã na cama, não disse nada a ninguém e não deixei de cumprir as minhas obrigações e responsabilidades enquanto mãe, por causa disso.


 

Estão desse lado mães que sentem o mesmo que eu, a trabalhar por conta própria ou não? :)


  

Boa tarde.


  
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