Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Até quando dura o vosso pós-parto?

18.10.17 | Vera Dias Pinheiro

Não devemos ter a pretensão de que sabemos tudo sobre a vida, sobre nós ou mesmo sobre o nosso corpo. Por isso, não devemos substimar o efeito que um pós-parto, ou mesmo de uma gravidez, tem numa mulher, independentemente de ser ou não a primeira vez. Da mesma forma que cada gravidez é única, também cada pós-parto é vivido de maneira diferente.


Somos socialmente forçadas a adoptar determinados comportamentos e a ter uma determinada postura perante estas situações e não percebemos a violência com todo este processo pode ter na mulher e a forma como isso a transforma e a poderá levar a ter atitudes diferentes do esperado - muitas vezes, nem ela própria se revê nela mesma. 


Durante o pós parto do Vicente e com a mudança de país, eu própria me coloquei na posição de quem se esqueceu da fase que estava a atravessar. Dediquei-me a toda aquela mudança que estava a acontecer nas nossas vidas. A verdade é que coloquei de lado o luto do parto que tinha tido, assim como, a minha frustração por não estar a conseguir amamentar.


Só mais tarde, quando já estava grávida uma segunda vez e na primeira sessão do curso de preparação para o segundo filho, quando a Enfermeira Luísa me pergunta como tinha sido a minha primeira experiência, começei imediatamente a chorar. Ou seja, eu não tinha sarado as minhas feridas, simplesmente as anestesiei durante cerca de três anos.


Talvez por esse motivo, durante a gravidez da Laura tenha entrado numa espécie de bolha onde praticamente havia apenas espaço para mim. Foram dias, semanas, meses de preparação para me proteger a mim, ao meu corpo e à Laura. Foi como se esta segunda gravidez, de certa forma, viesse cicatrizar as minhas feridas, numa espécie de redenção. Mas foi um processo solitário, muito comigo mesma, em conexão com o meu corpo e com muita instrospecção.


E, de facto, o parto foi maravilhoso e, para além disso, consegui amamentar durante praticamente um ano. No entanto, o meu pós-parto não terminou ali, o meu pós-parto durou cerca de dezoito meses. E não estou a falar da parte visível, ou seja, da recuperação física do nosso corpo. Falo de algo muito mais profundo, muito mais íntimo, algo que é a nossa essência e que tem impacto da forma como nos relacionamos com os outros, incluíndo o nosso núcleo familiar mais chegado. Falo da nossa disposição para coisas tão simples como ter vontade em ir jantar fora, desfrutar de um copo de vinho, ir ao cinema ou até mesmo da proximidade com o nosso companheiro.


Acho que estava demasiado concentrada no bebé e em todo este processo, acabando por entrar noutra bolha após o parto e por lá fiquei. Nas várias consultas que tinha com a fisioterapeuta Soraia Coelho, com quem partilhei algumas das minhas inquietações, pelo menos aquelas das quais eu me apercebia, cheguei a questionar se teria algum problema mais profundo. De certa forma, eu apercebia-me desse meu desligamento e não o compreendia e isso também me perturbava.


Serenamente, a Soraia acalmava-me e pedia-me que tivesse paciência comigo, para não esquecer a privação do sono e nem tudo o resto. Os casos aos quais eu me referia - e que ela está habituada a tratar - tem todo um outro contexto por trás. E, invariavelmente, terminava sempre as consultas dizendo: "Tenta dormir mais!", "Permite-te descansar!" Tinha que me nutrir para que o meu corpo, aos poucos, fosse ganhando a vida de antes.


E a verdade é que, so agora isso aconteceu. Foi o fechar de um ciclo, mas foram precisos dezoito meses. E sim, dezoito meses é muito tempo, mas é o tempo que que cada uma de nós tem que aceitar que precisa, sem pressão, sem julgamento, com muita compreensão e muito amor à sua volta.

Ter um filho é muito mais do que o parto em si. Muitas vezes, são sequelas silenciosas que ficam internamente e só mais tarde nos apercebemos que existem. Com efeito, nada disto pode ser levado de ânimo leve ou julgado com base em esteriótipos sociais. É preciso dar espaço, dar conforto e atenção à mulher que está no pós-parto. É preciso esperar que ela se reencontre. Para mim, foram precisos dezoito meses, certamente cada uma de vocês terá o seu próprio timing.


É importante que a mulher saia deste ciclo com ele completamente terminado, com uma força que vem de si mesma e não pela pressão causada pela sociedade, pelo marido, pela família... pressão que vem de todos os lados. Se assim não for, haverá sempre momentos de colisão e de completo desespero.


Quanto tempo dura, afinal, um pós-parto?


Ninguém sabe, nem a própria mulher. Dura o tempo que tiver que durar. Posto isto, vamos ser mais tolerantes com elas, é importante que cada mulher passe por esta fase até se reencontrar por completo. Só assim, amando-se a ela própria em primeiro lugar, é que ela será capaz de retribuir aos outros todo o amor que eles esperam dela.


 

Boa noite.


 
UA-69820263-1

A dependência dos jovens do mundo digital

18.10.17 | Vera Dias Pinheiro

Sabiam que sensivelmente mais de 80% dos jovens portugueses se encontram dependentes do mundo digital?  Na verdade os nossos jovens (e muitos adultos!) estão quase ligados minuto a minuto e ainda que não existam muitos estudos no que se refere à dependência, por exemplo, dos jogos por parte das crianças, sabe-se já que os sintomas apresentados quando falamos de dependência são em muito semelhantes aos apresentados na dependência das drogas e do alcool.  Verdade!


De facto, e explicado de uma forma muito simplista, jogar frequentemente faz com que os nossos jovens sintam um "prazer" imediato e voltem a jogar para reduzir a ansiedade gerada pela impossibilidade de jogar no momento, o que em termos cerebrais ativa o mecanismo da recompensa, que é o mesmo circuito ativo nas dependências que conhecemos. Assim, instala-se uma bola de neve que se auto-alimenta: quanto mais se joga, mais prazer imediato se tem e, quanto mais prazer maior a ansiedade perante a ausência de jogar - o circuito fica assim se quiserem "montado".


Claro que, normalmente, as nossas crianças e os nossos adolescentes não aceitam que o "vício" do jogo se esteja a tornar um problema, até porque como em qualquer outra dependência o mecanismo de defesa entra em acção  -  a negação: "eu não,..., eu não preciso de ajuda","eu páro quando eu quiser".


Por estas razões e por vivermos numa era cada vez mais digital, todos os agentes educativos - todos sem exceção - devemos estar atentos a possíveis sinais de dependência nos nossos filhotes ou nos nossos conhecidos, como por exemplo:


  • Parece existir um uso abusivo da internet?
  • Parece aumentar a irritabilidade perante a impossibilidade de estar on-line?
  • Aumentou\agravou o isolamento social?
  • Costumam existir mentiras acerca do tempo dispendido nas plataformas digitais?

Especificamente no caso dos jogos eletrónicos, devemos prestar atenção a:


  • o jogo ocupa cada vez mais lugar na vida daquela criança/jovem;
  • a criança ou adolescente está mais agressivo e irritado na imposibilidade de jogar;
  • a criança ou adolescente sente-se alivido por poder jogar e faz tudo para não perder o jogo;
  • ocorreu uma diminuição significativa nas suas atividades sociais.

Esta temática é, de facto, extremamente importante se pensarmos que as consequências para a vida dos nossos jovens são múltiplas, como por exemplo:


  • difiuldades em adormecer à noite ou sono agitado;
  • alterações no padrão alimentar;
  • baixa auto-estima;
  • dificuldades no relacionamento com os pares;
  • maior probabilidade de problemas comportamentais e do aparecimento de perturbações do humor;
  • maior probabilidade de um comprometimento negativo nos desempenhos escolares.
  • Dificuldade em lidar com a frustração.

Convém não nos esquecermos que a dependência dos jogos pode acontecer independente da idade cronológica, o que significa que pode ocorrer em qualquer idade desde as crianças, aos adolescentes/jovens até aos adultos e , em caso de dúvida, se deve procurar um profissional especalizado pois a solução não passa por retirar drasticamente o computador ou o acesso ao mundo digital,  mas sim por incentivar o jovem a praticar gradualmente atividades alternativas e prazerosas, fazendo um uso equilibrado destas.


Tudo com peso, conta  e medida vale a pena, pois não podemos também descurar que os jogos e a internet proporcionam o acesso a conteúdos e a aprendizagens muito importantes. Para que tudo corra pelo melhor partilhamos ainda algumas dicas:


  • Esteja atenta;
  • Controle quanto tempo passa na internet e quanto desse tempo é a jogar;
  • Perceba que tipo de jogos, joga;
  • Avalie como lida com a impossibilidade de jogar;
  • Perceba que ocorreu alguma mudança significativa no seu padrão alimentar, de sono, social e pessoal.

É inegável o poder do mundo digital na sociedade em geral e, muito em particular, nos segmentos mais jovens da população e começam cada vez mais cedo a mostrar interesse e propensão para tal. Com efeito, o papel dos pais passa por uma actuação consciente de que não podemos retirar os jovens desse mundo, porém, é preciso controlar e garantir algum equilíbrio, sem esquecar de enfatizar tudo o resto que faz parte da nossa dimensão humana.


Boa tarde.


UA-69820263-1