Não consigo agradar a toda a gente!
27.03.17 | Vera Dias Pinheiro
Não consigo agradar a toda a gente, especialmente porque isso implica estar sempre a pensar nos outros em primeiro lugar, em vez de pensar em mim. Não consigo viver para dar conforto, compreensão e espaço à vida e aos problemas do outros e deixar que a minha fique em suspense, à espera do tempo para mim - que, diga-se de passagem, passa a ser francamente insuficiente depois de termos filhos.
Nesta fase, em particular, há coisas que me são verdadeiramente difíceis de alcançar:
- Ainda estou longe do meu de equilíbrio, após a minha maratona de dez meses em privação do sono. Não consigo explicar mais do que dizendo apenas que sinto o meu corpo a latejar e para o qual todas as horas que possa passar na cama, são poucas. O corpo pesa-me todos os dias e todos os dias eu contrario a sua vontade. Por isso, eu simplesmente não consigo acordar bem disposta, leve e sorridente, não consigo! Foram dez meses a gerir um estado de ansiedade sempre que se aproximava o fim do dia e de imaginar como iria ser aquela noite. Foram dez meses a tentar levar tudo isto na boa, como se não fosse nada comigo. Mas, caramba, foi comigo, sim!
- Ter dor de cabeça e estar bem-disposta para os outros e para os problemas dos outros, é também uma coisa que eu não consigo ser;
- Não consigo colocar os meus problemas de lado para dar privilégio aos dos outros ou para viver os problemas dos outros com a importância que esses mesmos outros acham que nós lhe devemos dar;
- Não consigo responder às várias solicitações - para fazer quatro ou cinco coisas diferentes e ao mesmo tempo e concluir todas elas com sucesso;
- Não consigo ter a mesma memória e a mesma capacidade de raciocínio que tinha antes de ter filhos;
- Não consigo ter a mesma energia quando meu corpo exige descanso e implora por umas horas a mais de sono;
- Não consigo sorrir para o mundo do outros, quando meu mundo está a desabar;
- E, muitas vezes, não consigo ser melhor na forma como o outro me trata. Caio no erro de responder de igual forma, porque o meu cansaço não me deixa fazer melhor.
- Olhem, e também não consigo mais fingir que não estou cansada ou que não tenho sono. Não, não consigo fingir mais que comigo está sempre tudo espectacular e, por isso, manda aí todos os teus problemas que eu aguento, ouço e, no fim, ainda te dou uns conselhos;
- E talvez, ainda mais grave, eu não consigo interessar-me por conversas random quando tudo o que me apetece é estar sossegada no meu canto e usar todo o tempo que consigo ter para mim, investindo no meu trabalho;
- Perdoem-me mas não consigo mais ser aquela pessoa que está sempre com boa cara.
Desculpem aqueles a quem eu não consigo agradar 24 horas por dia, quando muitas vezes, essas 24 horas do dia servem para tudo, menos para mim. Desculpem-me aqueles que esperavam de mim o impossível, a perfeição e a dedicação que me obriga a dar mais de mim essas pessoas do que à minha própria vida.
Antes, a minha vida era relativamente exigente. Basicamente, ia para o meu trabalho, sentava-me, fazia as minhas tarefas (sendo o grande desafio o de deixar o menos possível por fazer para o dia seguinte); fora dali, não tinha ninguém para ir buscar à escola; a lembrar-me de que o jantar não pode ser simplesmente uma taça de cereais com leite; que há actividades, que é preciso não esquecer dos recados, das consultas no médico, de levar ao parque, de dar banho, jantar, adormecer e, muito importante, brincar. Antes, a minha vida tinha realmente espaço para todos aqueles que procuravam alguém que os ouvisse, que tivesse o tempo, a disponibilidade e ainda uma palavra e um ombro amigo para dar.
Porém, a minha vida de agora é diferente e depende apenas de mim, a sua evolução faz-se sempre acompanhar pelo meu estado de espírito e sofre directamente com os meus baixos e beneficiam directamente com os meus altos. mas a verdade é que para já, não me sobra muito tempo para outras coisas, como cafés, almoços, envoltos de vazio e de conversas da treta, para os problemas dos outros e, especialmente, para agradar aos outros.
É que, por incrível que pareça, nestes dias menos bons, nos momentos em que os problemas parecem sufocar-nos, ainda assim, eu contínuo a ter que saber colocá-los de lado e a fingir que eles não existem, pelos meus filhos. Não posso deixar que a dor de cabeça latejante, impeça o meu filho de levar o poema da primavera feito para entregar na escola; não posso deixar que a minha falta de paciência, interfira no momento de adormecer a minha filha; que o cansaço me impeça de ir ao supermercado comprar o leite que é preciso levar para a escola no dia seguinte; de fazer o jantar; ou de desfrutar do momento de brincadeira com eles. Na verdade, são eles as únicas pessoas que podem e devem realmente exigir o que quiserem de mim.
Bem sei que é bem mais fácil e tentador apontar o dedo e cair na crítica, em vez de apontar as coisas boas que fazemos. Bem sei, mas antes eu tinha tempo para me preocupar com isso e hoje em dia, eu não tenho tempo para conseguir agradar a toda a gente!
Se são também daqueles pessoas que sentem que, há momentos, em que parece que as pessoas à vossa volta exigem mais do que aquilo que dão, deixem nos comentários e partilhem os vossos truques para se protegerem.
Boa noite.
Se são também daqueles pessoas que sentem que, há momentos, em que parece que as pessoas à vossa volta exigem mais do que aquilo que dão, deixem nos comentários e partilhem os vossos truques para se protegerem.
Boa noite.