Foi Uma Parte Da Nossa História Que Chegou Ao Fim...
22.03.17 | Vera Dias Pinheiro
A poucos dias de completar um ano, a nossa história de amamentação chegou ao fim e terminou de forma serena e natural como eu tanto desejava e como na minha cabeça fazia sentido que fosse. E olhando para trás, digo-vos que tive momentos em que achei que era impossível chegar tão longe, outros em que o cansaço e a exaustão me fizeram querer desistir em vários momentos.
Foram praticamente doze meses de superação, em que aprendi a confiar em mim e apenas em mim e em que venci todos os meus medos. Afinal, os fantasmas estavam apenas na minha cabeça e eu precisava resolver muitas coisas que tinham ficado da primeira gravidez. Aprendi a dar valor a cada dia, pois cada dia superado era mais uma vitória. Aliás, foi precisamente desta forma que chegamos até aqui: vivendo um dia de cada vez e fazendo da soma desses dias este nosso record. Não tínhamos regras, horas, local, nada... foi sempre em livre demanda e sempre na maminha.
Quando chegamos aos três meses, permiti-me descansar e deixar fluir, mas foi quando chegamos aos seis meses de amamentação em exclusivo que o meu coração explodiu de alegria! Tínhamos conseguido, num mérito exclusivamente nosso, porque amamentar é um trabalho que se faz em equipa (entre a mãe e o seu bebé) e sem mais ninguém. Não pode haver lugar aos comentários de terceiros, que minam a nossa confiança e a nossa segurança, mesmo quando são ditos na inocência, nem a pessoas que nos olham como seres estranhos e que nos perguntam constantemente: até quando?/ ainda amamentas?/ Não achas que é fome?/ Está outra vez na mama? e tantas outras coisas que temos que ouvir e... sorrir.
Com a Laura, amadureci o caminho que se tinha aberto com o Vicente, mesmo com todas as feridas que ficaram por cicatrizar ao longo destes três anos. Sou uma mulher muito mais segura, mais autêntica, que sabe que tem nela todas as ferramentas de que necessita para ser feliz e para se realizar a si mesma a todos os níveis. E é incrível olhar para trás e ver o caminho que fiz, o desapego que consegui trazer à minha vida, as pessoas tóxicas que larguei e o caminho solitário que tenho feito em busca do meu eu.
No entanto, gostava de dizer que não é a amamentação que nos define enquanto mães, não é isso que faz de nós melhores ou piores mães. O nosso segredo está quando conseguimos estar em paz connosco mesmas e com as nossas decisões. Esta mãe é, sem dúvida, muito mais feliz, plena, segura e não terá filtro nem barreiras naquilo que dá aos seus filhos. Descobri isso com o Vicente, mas só com a Laura tudo se encaixou na perfeição e, por isso, tudo correu como correu. Os meus filhos têm, finalmente, uma mãe de pazes feitas consigo mesma, têm a minha melhor versão e isso é de uma gratidão imensa.
A nossa história de amamentação chegou ao fim quando um dia me apercebi que nem eu, nem a Laura nos tínhamos procurado, quando a mama não foi opção para a acalmar a meio da noite ou de todas as vezes em que acordava. A nossa história terminou de forma serena e bonita e para sempre vou guardar esta experiência magnifica que foi, com tudo aquilo porque que passámos, desde o primeiro instante em que a coloquei na mama pela primeira vez, na sala de recobro. É impossível não me deixar comover quando tudo faz sentido desta forma tão perfeita.
Não posso deixar de agradecer à enfermeira Carmen, pessoa que quis a vida que estivesse de serviço no hospital no dia em que a Laura nasceu e que me "protegeu", dando-me toda a confiança que podia; à Constança Ferreira e a enfermeira obstetra Luísa Sotto-Maior (com quem fiz o curso de preparação para o segundo filho, no Centro do Bebé) dois anjos que se cruzaram na minha vida - não tenho dúvidas de que foi uma força maior que as colocou no meu caminho e a quem todo o meu agradecimento é pouco.
A todas as mães ou futuras mães gostaria de dizer apenas que cada uma tem a sua voz e que nada nem ninguém vos deve convencer do contrário. Permitam que a maternidade vos faça embarcar nesta viagem absolutamente mágica ao mais profundo do vosso ser, aceitem todas as transformações que ela vos oferece e procurem nos vossos filhos às respostas as todas as vossas dúvidas. Não há certo, nem errado, há uma mãe e um bebé que juntos fazem uma dupla invencível para toda a vida. Mas atenção, pois não é uma viagem nada fácil, porém, pelo caminho, vamos percebendo que incrivelmente tudo - mas tudo mesmo - vale tanto a pena!
Boa noite.
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