Há um bom bocado dos nossos filhos que cresce sem darmos conta e há um bom bocado dos nossos filhos que foge ao nosso controlo.
Através do Vicente, começo a dar-me conta de uma outra fase dos filhos, uma bem desafiante e bem mais exigente do que aquela que vivemos com os bebés, em que o nosso principal papel, enquanto pais, é o de cuidar! Claro que, ao longo desta viagem pela maternidade, vão sendo cada vez mais as situações em que me sinto como a minha mãe, ou seja, em que me revejo em muitas das coisas que a ouvia dizer e às quais eu não dava importância na altura, como é óbvio - e aprendemos a dar "a mão à palmatória" também...
O Vicente tem crescido o seu "bom bocado" na escola, junto do seu grupo de pessoas e é cada vez mais evidente que existe todo um mundo que lhe pertence e que tenho que me esforçar para acompanhar e valorizar. Essa é a parte mais importante e aí que sinto que o meu papel enquanto mãe começa a mudar, pois se, até então, eu ensinava e dizia como as coisas tinham de ser feitas, digamos assim, agora isso mudou! O Vicente desenvolveu a sua personalidade, tem as suas vontades e tem, sobretudo, uma palavra a dizer sobre as coisas - se é ou não a palavras final, isso já é outra coisa. O meu papel no meio de tudo isto é o de encontrar a melhor forma de o guiar para que não saia dos limites que, para mim, são fundamentais. Tive que aprender a ser bastante mais flexível em relação aquilo que se passa entre esses limites e aceitar que ele deixou de fazer tudo exactamente como eu lhe digo para fazer.
Há um bom bocado do Vicente que se desenvolve no tempo que passa fora de casa e que o faz querer crescer muito rápido - esta ideia tola que todos temos quando somos crianças: a de querer ser adulto! Mal sabem eles... - fá-lo falar em escola primária como se dominasse o assunto e em ter seis ou sete anos... dou por ele a associar letras e a conseguir ler pequenas palavras; sabe que os trinta e quatro anos da mãe são um três e um quatro que, cheio de segurança demonstra com as suas mãos; pinta tão bem, sem sair dos limites e tem muita imaginação quando se põe a desenhar e os desenhos são cada vez mais explícitos daquilo que ele quer desenhar.
Há um bom bocado do Vicente que está a crescer e a fugir ao meu controlo, que é como quem diz, é cada vez mais difícil aninhá-lo no meu colo, mas, ao mesmo tempo, é cada vez mais delicioso conversar e fazer programas com ele. No entanto, é muito, muito difícil conseguir dialogar no momento da birra, fazê-lo mudar de ideias, fazê-lo perceber que não pode ser como ele quer e tudo isto porque ele é teimoso nas coisas que quer e na forma como quer. Nos dias de hoje, o meu maior desafio é precisamente o de lidar com a birra sem que eu passe também os meus limites - porque os pais também devem ter os seus limites - e aquilo que me move é sentir que, no momentos de tensão, eu não posso desistir dele, partindo para a solução mais fácil.
Há uns dias, a
Raquel escrevia no seu blog, que o seu filho, da mesma idade do Vicente,
tinha-a chamado de má pela pela primeira vez. Não sabia que eu hoje iria passar pelo mesmo, também pela primeira vez. Magoou, porque as crianças sabem ser bastante assertivas na forma como dizem as coisas. Quis ser superior àquele
"És má, má, má! ÉS MÁ", mas fiquei aborrecida e, mesmo depois de termos conversado, ele quis ter a razão dele. Hoje foi o primeiro dia que nos despedimos sem termos tido o tempo necessário para resolver a zanga, porém, eu acho que é no momento que conseguimos fazê-los entender as consequência de certas atitudes.
Há um bom bocado do meu filho que está a crescer e há um bom bocado de mim, enquanto mãe, que começa a ficar um pouco apreensiva com as fases que se avizinham.
P.s: Já agora o motivo desta minha malvadez, foi tê-lo avisado - pela enésima vez - de que não pode andar com os ténis pela casa, porque a mana agora anda por todo lado, no chão, e porque lhe tirei o ténis do pé, Antes disso, já lhe tinha pedido para lavar os dentes e ele já tinha dito que não, porque estava a brincar com o lego.... Portanto, é compreensível que os meus créditos já estivessem esgotados...
Gostava de ouvir as vossas histórias, porque, tal como vocês, eu também gosto que sentir que não estou sozinha nesta fases desafiantes da maternidade.
Boa tarde.