Quando tens um filho imprevisível
26.10.16 | Vera Dias Pinheiro
Sempre consegui fazer tudo com um bebé, nunca foi impedimento para que eu fizesse praticamente tudo, embora, em certas situações, sempre com uma certa dose de stress e de maior esforço. Mas estava habituada a um bebé que aceitou muito bem as rotinas, que era previsível no sentido em que dormia sempre às mesmas horas, comia às mesas horas, era tranquilo na hora de adormecer, etc... Orgulhosamente, dizia às minhas amigas que não era assim tão difícil fazer a minha vida "normal" estando em casa com um bebé 24 horas por dia. Sabia que havia sempre a sesta da manhã, aquela que aproveitava para tomar banho e preparar o almoço e que havia a sesta logo após o almoço, em que organizava a casa e, depois, conseguíamos sempre dar um passeio ou, até mesmo, almoçar fora. E, ao fim do dia, era religiosamente: jantar, banho e cama de forma tranquila e que nos permitia ainda ter uma boa parte da noite para nós com tempo de qualidade e sem filhos.
Agora não consigo, vivo com um bebé imprevisível e que se irrita se tento criar as rotinas ou porque ela simplesmente não quer ou porque, naquele dia, não está para aí virada. É levar horas para a conseguir adormecer e quando finalmente consigo, ela só dormir "às meias horas", aos "poucachinhos". É ter que sair de casa e não conseguir sequer tomar um banho; é olhar para o relógio e perceber que, de repente, passei uma manhã inteira a tentar adormecê-la, com a casa virada do avesso - como sempre fica depois das manhãs típicas numa família entre o acordar, tomar o pequeno-almoço, vestir e sair.
É sentir que precisamos só daquele bocadinho de tempo para tomar um banho e vestir qualquer coisa que não seja o pijama, pela manhã, para começar um novo dia e não conseguir. Se calhar porque eu própria sou uma pessoa que gosta de rotinas, de uma certa ordem no seu dia, de ter a certeza que consigo fazer as coisas que preciso e que, ao ver-se privada disso, acaba por sentir que muitos dias ficam, por assim dizer, perdidos.
E ao fim do dia a história repete-se. Precisa de mim e do meu aconchego para ir para a cama, mais agora nesta fase em que está a reclamar mais a minha presença e a mama, por começar a mamar menos vezes durante o dia, algo que ela procura compensar durante a noite... Facilmente, ficamos ali mais de uma hora, ela para comer e adormecer. Ao fim do dia, quando podia recuperar algum tempo para mim, isso não acontece e voltamos a estar ali ligadas pele com pele. É óptimo, é maravilhoso, mas ao fim de sete meses, sentimos que estamos a dar, para além do alimento, também o nosso corpo, é desgastante e intenso.
Mas a Laura não é uma bebé difícil, está sempre bem disposta e é tranquila... simplesmente, é imprevisível: nunca sabemos quando é que vai adormecer; quanto tempo vai levar a adormecer; quanto tempo vai dormir. Com um bebé imprevisível, podemos ter que sair do banho a meio; ter que ir à casa de banho e ficar com o bebé ao colo; ter que desmarcar um compromisso à ultima da hora... com um bebé imprevisível nunca temos um dia igual ao outro e nunca dar nada como garantido.
Mas a Laura não é uma bebé difícil, está sempre bem disposta e é tranquila... simplesmente, é imprevisível: nunca sabemos quando é que vai adormecer; quanto tempo vai levar a adormecer; quanto tempo vai dormir. Com um bebé imprevisível, podemos ter que sair do banho a meio; ter que ir à casa de banho e ficar com o bebé ao colo; ter que desmarcar um compromisso à ultima da hora... com um bebé imprevisível nunca temos um dia igual ao outro e nunca dar nada como garantido.
Na brincadeira, costumo dizer que a maternidade é só para os rijos, mas é bem verdade! Às vezes, não é fácil abstrair-nos de certos pensamentos ao longo deste caminho, somos capazes de sentir muitas coisas diferentes, às vezes, temos vontade de dizer já chega! preciso parar ou, então, eu não aguento mais!
Esta semana tem sido assim, absorvente e intensa, passamos muito tempo as duas, sem compromissos ou horários para cumprir. Ao fim da tarde vamos buscar o irmão e regressamos para outro turno. Esta semana teve ainda a chuva, que, para quem anda com bebés atrás, sabe bem a logística que é e o cansativo que é, sem esquecer as molhas que apanhamos para os protegermos a eles.
Das coisas que mais me custa é não conseguir ir ao ginásio, porque sei que ali encontro o meu equilíbrio, liberto o stress que acumulo cá dentro para não passar para eles, porque no fundo é uma fase, um tempo que passamos e que eu não trocaria por nada para fazer de uma outra forma. Ter o privilégio de poder estar com os meus filhos num período tão prolongado é uma bênção, mas não é uma caminho que se faça por terras planas... tem altos e baixos, vivemos emoções e sentimentos à flor da pele. E claro que tudo vale a pena, pois ao mesmo tempo conhecermo-nos a nós próprias de uma forma muito pura e forte, aprendemos a transformar-nos em detalhes que achávamos que era impossível.
Eu aprendi a ser mais branda, a controlar-me, a ter um sorriso mais fácil e a ser feliz com as mais pequenas coisas. Aprendi a olhar para a vida de uma outra perspectiva, mais global e menos concentrada nas "pieguices" do dia-a-dia e tudo isto graças a estes dois filhos e a este tempo que tenho para eles, mesmo que tenha que me privar, ao mesmo tempo, de muita coisa. Mas, como costumo dizer, para já, está tudo bem, estou a dar o melhor de mim a quem mais precisa.