Viagem ao arquivo #1
19.06.16 | Vera Dias Pinheiro
A parte boa de ter um blog é podermos, de vez em quando, percorrer o arquivo à procura de textos antigos, de textos que descrevem momentos importantes e que quis que ficassem registados para que, quando a minha memória me faltasse, eles estivessem ali à minha espera.
De nenhuma das duas gravidezes fiz um diário; também não fiz um álbum para o primeiro ano de vida e ainda não fui imprimir fotografias de verdade - e não gosto mesmo nada disso, acho que a era da tecnologia trouxe-nos alguma inércia também para que as memórias não acabem por ficar presas dentro de um aparelho qualquer que, se por algum motivo tem um problema, apaga a nossa história por completo! Fiz, sim, uma caixa para cada um deles, para guardar as coisas mais importantes de quando eram bebés: a chucha, a primeira roupinha, o objecto que mais gostavam, etc... Mas, prometi a mim mesma que este ano vou fazer um álbum para cada um, vou tirar as fotografias do computador e vou dar-lhes a importância que realmente têm: a de guardar memórias impressas no papel que podemos ir revivendo ao longo dos tempos.
Foi numa dessas pesquisas que faço algumas vezes, principalmente quando me bate a saudade do meu Vicente bebé e dos tempos tão únicos e especiais que vivemos em Bruxelas, que encontrei o texto que escrevi quando o Vicente andou verdadeiramente pelo seu próprio pé, num outro outro país, com um outro clima, numa outra casa... há já três anos atrás.. uma autêntica eternidade quando nos deparamos com a velocidade com que os nossos filhos crescem.
Hoje, o Vicente andou, pela primeira vez, cheio de confiança. Percorreu a sala de uma ponta à outra. E, depois, voltou a andar na minha direcção, porque queria dar-me um brinquedo e, a seguir, já estava a andar por tudo e por nada. Faltou-me a agilidade para pegar no telemóvel e registar o momento, em vez disso, limitei-me a ficar imóvel e a observar tudo o que ele fazia.
Na verdade, o Vicente já andava, ele deu os seus primeiros passos ainda antes de completar um ano, também na minha presença e, mais uma vez, sem que eu conseguisse fazer mais para além de olhar para ele. Nesse altura, estava apenas a aventurar-se, dava três ou quatro passos, sentava-se, olhava para nós e ria-se.
Nos últimos meses, ele cresceu muito, já faz tantas coisas de verdadeiro menino, fala muito e até já quer fazer conversas. Passo o dia a responder à sua (constante) pergunta: "O que é?". Todas as manhãs chama por mim ou, então, fica a conversar na sua cama e eu, já acordada, deixo-me ficar a ouvi-lo.
Custa-me desprender do meu bebé mas, ao mesmo tempo, não deixa de ser incrível vê-lo crescer e de saborear cada vez mais da sua companhia.
O Vicente, um ano e um mês."