Olhar para as coisas da perspectiva das crianças
09.05.16 | Vera Dias Pinheiro
1. Quantas vezes, não acontece estarmos atrasados para sair de casa e os nossos filhos arranjarem sempre uma forma de nos conseguir atrasar ainda mais. Encontram sempre uma maneira de criar um impasse maior que nos faz ficar irritados e prestes a explodir ao ver os minutos a passarem. Por aqui, este é um clássico de todas as manhãs, em que a simples saída de casa até ao carro é um autêntico desafio. Ou é porque o Vicente fica indeciso quanto ao livro que quer levar para a escola; ou porque faz questão de deixar tudo arrumado antes de sair; ou porque quer ser ele calçar-se sozinho; ou, então, porque vai na rua a passo de caracol e distrair-se com tudo o que há à sua volta.
Mas, enquanto para nós, isto é um factor de stress, um sinal de rebeldia ou então, achamos "que eles só fazem isto mesmo para chatear". A verdade é que, isto é tão somente a forma que deles retardarem a separação. Para eles, é tão bom estar na nossa companhia e, por isso, é mesmo intencional o facto de tentarem adiar o mais possível o momento em que cada um vai à sua vida.
2. A partir do momento em que as crianças começam a sentir-se mais independentes e autónomas, há uma altura em que todas começam a desafiar os pais para correr atrás deles, enquanto eles gritam de sorriso no rosto: "não me apanhas!". O facto de irmos atrás deles tem um motivo: o entusiasmo com que celebram a recém descoberta dessa independência passa por ter a certeza que o pai ou a mãe vão estar logo ali atrás deles, para o caso deles precisarem.
Quanto mais uma criança se aventura, mais certeza ela precisa ter de que o pai ou a mãe vai lá estar para ela.
3. Levar os objectos que mais gostam para todo lado! Este é outro dos clássicos por aqui. Todos os dias o Vicente leva para a escola ou um livro; ou alguns animais; ou alguns carros; ou, então, alguma coisa pontual que lhe tenha sido oferecida e que ele tenha gostado muito. Por vezes, lá estamos nós a questionar a necessidade de andar com tanta coisa para trás e para a frente. No entanto, esses objectos são uma forma de ter os pais por perto, é uma forma de ajudar a que a criança se sinta segura. São ima espécie de referência.
4. Espalhar o terror na horas das refeições: espalhar comida, levar as mãos ao prato, fazer piadas à mesa, fazer-se de engraçado enquanto come... Enfim, há alturas em que eles só não fazem o pino porque não calha. Pois, enquanto para nós a hora da refeição é sagrada e com alguma "ordem", para eles não... para as crianças é o momento propício para explorar e experimentar e com quem é que o querem partilhar isso? Com os pais, com quem estiver com eles à mesa! Elas gostam de partilhar todas as alegrias, sejam elas de que natureza for, com os seus pais.
5. Quantas vezes, não estamos nós, já cansadas de chamar a atenção dos nossos filhos ou de lhes pedir para não fazer uma determinada coisa, e acabamos por desistir? E é nesse preciso momento, que eles vêm ter connosco, como se nada fosse, que pedem desculpam, que dão beijinhos e abraços. Por aqui, acontece muitas vezes! Quando já estou mesmo pelos cabelos, lá vem ele, com aquela sua voz meiga, dizer-me:"Despuca mãe, dá beijinho!". Isto também tem um motivo, é que quanto mais eles se vão tornando independentes e até desafiadores, mais eles vão precisar de sentir o nosso conforto e o nosso carinho!
6. O entusiasmo e euforia com que os nossos filhos nos recebem quando os vamos buscar à escola ou quando chegamos a casa é a maior prova de amor que podemos ter da parte deles é a demonstração mais pura da alegria que sentir por saber que fomos, mas que estamos de volta!
7. A importância das rotinas e a forma como elas transmitem a mesma segurança quando nós não estamos. É verdade! Muitas vezes, ficamos cansados de ler sempre as mesmas histórias, vezes sem conta, mas na cabeça das crianças essa é a forma de nós entrarmos na rotina delas e de fazermos parte delas, é transmitida uma noção de segurança às crianças, mesmo nas situações em que nós não estamos lá fisicamente.
Estes foram os aspectos que achei mais interessantes deste artigo "As nove maneiras do seu filho dizer eu te amo", que li aqui. São sete situações que ocorrem cá em casa frequentemente e que, de alguma forma, são potenciadores de alguma tensão. Porém, agora que veja cada uma delas à luz do entendimento e raciocínio das crianças, acho que vou tentar ser ainda mais tolerante, ou melhor, vou optar por tentar me aborrecer somente nas situações estritamente necessárias, tal como já vos tinha transmitido aqui. 1, 2, 3... Respira fundo! :)
Estas situações também são comuns aí desse lado?
Boa tarde.