No parto do meu primeiro filho, foi muito difícil conectar-me com tudo o que estava a acontecer quando ele nasceu. Depois de acordar de uma anestesia geral, tive uns breves instantes para me "recordar" onde estava e a fazer o quê. A primeira vez que vi o meu filho, já estava completamente limpo e vestido, na encubadora à minha espera -
para alguém que queria um parto o mais natural possível, tudo aquilo era bastante anti-natura e artificial. Não sei bem quanto tempo se passou até acordar, só sei que implorei, antes de adormecer, para que não dessem suplemento e obriguei o meu marido a prometer que iam esperar por mim para fosse eu a dar o meu leite ao Vicente. Como se tudo isto não bastasse, fisicamente estava muito debilitada, por isso, estava completamente dependente dos outros para me ajudarem a cuidar do Vicente.
Cheguei a casa com muita vontade de contrariar toda aquela distância que havia entre o parto, o nascimento, uma mãe e o seu filho. Por isso, sentindo que tinha de alguma forma fracassado no parto, concentrei-me a todo o custo na amamentação. E aqui cometi o primeiro erro: ter tentado a todo o custo, em vez de me desprender de tudo o que tinha acontecido e ter-me entregue ao Vicente de corpo e alma. Eu estava demasiado frágil e vulnerável aos maus conselhos, aos conselhos que me levaram a mecanizar tudo, em vez de deixarem que fosse o Vicente a dar-me as respostas que precisava. Eram conselhos que me faziam cronometrar o tempo das mamadas, o tempo entre as mamadas, se mamava numa ou nas duas mamas... Eu ditava tudo, eu é que impunha tudo ao Vicente! Quando me apercebi que estava no caminho errado, já era tarde. Após três meses, já não havia leite, paz de espírito, nem tranquilidade e o Vicente começava a perder peso e isso para mim era o sinal de que tinha que parar.
A Laura, por sua vez, nasceu de parto natural. O parto da Laura esteve, do início ao fim, nas minhas mãos, só me deixei ir quando já estava na sala de partos prestes a ter a minha filha nos meus braços. Ninguém nos separou desde que saiu de dentro de mim, aliás, fui eu que a agarrei e puxei para o meu peito. Estivemos pele com pele longos minutos, numa relação quase animal com a minha cria, ela cheirava-me e eu a ela. Saímos da maternidade sem que ela tivesse chegado a perder os 10% do peso que um recém-nascido pode perder e, agora, já estamos muito perto de recuperar o que perdeu.
A Laura come quando tem fome e eu estou ali para ela, completamente disponível, sem pressa e sem relógio. Às vezes, é bastante rápida, outras vezes, nem por isso e estamos ali mais de uma hora, entre adormecer, mudar as fraldas, fazer uma pausa... mas ela come até ficar satisfeita, come até querer e largar a mama, já ferrada a dormir.
Agora sou capaz de ver claramente as diferenças entre um e outro, agora sou capaz de perceber que amamentar é um compromisso com o nosso bebé, para quem estamos em total disponibilidade e dependência. Este tipo de relação nem sempre é fácil, nestes primeiros tempos em que o bebé ainda não está regulado, podemos sentir-nos numa espécie de prisão, por isso, não estranho nem julgo as mulheres que decidem não o fazer, porque na verdade, amamentar é um compromisso - nem sempre fácil e nem sempre isento de algum sofrimento e dificuldade.
Ser mãe é muito mais do que amamentar, disso não tenho dúvidas e foi o meu primeiro filho quem mo mostrou; no entanto, para as mães que querem amamentar e para quem isso é importante, sentir que o conseguem fazer, sem sofrimento e sem esforço, é simplesmente maravilhoso e é essa a sensação que tenho vivido nestes últimos dias - e isso devo-o à minha segunda filha. São dois filhos fruto de experiências completamente diferentes, mas ambas me têm ensinado muito e apenas sou a mãe que sou hoje por ter passado por cada uma delas: uma, foi a superação e a outra, a reconciliação!
Bom dia!