Preparar chegada do irmão #5 Psicóloga Inês M.
Queridos Pais, a família vai crescer?
O nascimento de um segundo filho constitui um importante marco no desenvolvimento de toda a Família. Se, no nascimento de um primeiro filho, os ajustamentos ocorrem essencialmente no seio dos crescidos, um segundo filho pressupõe que um pequenote passe de “filho único a irmão mais velho”. Dúvidas, desejos e expectativas que se criam, bem como necessidades que emergem, acarretam enormes desafios emocionais (mas não só) para o casal e para o seu primeiro filho. Por isso, é natural que o humor da família oscile entre o entusiasmo e alegria e o receio e apreensão.
O que mudará?
Talvez menos aspectos centrais do que imaginam num primero momento. Tempo. Não há menos tempo. Há necessidade de gerir o tempo de maneira diferente. Gerir rotinas de duas crianças implica necessariamente gerir o tempo de forma diferente. Por outro lado, crianças com idades diferentes têm necessidades diferentes, originando ritmos distintos. Sono, alimentação e distracção em doses duplas e respeito por fases de desenvolvimento distintas pode parecer, numa primeira instância, tarefa para super-herói. No entanto, o envolvimento do irmão mais velho no cuidado do mais novo pode ser um truque com um retorno valioso.
Mais cansaço e com maior facilidade. Os primeiros meses do recém-nascido são sempre exigentes e desgastantes, quer do ponto de vista físico quer emocional, particularmente para a mãe. Estar sensível a isso, reforça a importância do auto-cuidado. Querida mãe, cuide de si, mesmo que por breves minutos, todos os dias.
Maior confiança nas capacidades. Aquilo que num primeiro filho poderia parecer um quebra-cabeças, como fraldas e amamentação, deixará de o ser, pelo menos na mesma escala, quando se fala de um segundo filho. É natural que as dúvidas na segunda viagem sejam menores e a auto-confiança ajudará a descomplicar muitas situações.
Como atenuar o impacto das mudanças?
A organização e a preparação podem ser importantes aliados para todos. E não falamos apenas de fraldas, roupas e biberons. Preparar a casa e a Família para as mudanças é uma tarefa importante. Estar consciente dos novos desafios permite ao casal usufruir desta nova fase do ciclo de vida da família com maior tranquilidade e prazer. Ajudar o filho mais velho a compreender o que mudará e o que permanecerá inalterável, permitirá que também ele receba o seu irmão com maior segurança e disponibilidade emocional. A previsibilidade dos acontecimentos gera segurança. Sabendo o que irá ser novidade com a chegada de um bebé, o irmão mais velho irá sentir-se mais confiante sobre o seu papel na Família. É essencial que a criança sinta que as suas rotinas podem mudar, mas que o amor que os pais sentem por ela se mantém intacto.
E a família alargada ajuda ou atrapalha?
Dosear a emoção e a forte vontade de querer estar perto do mais novo elemento da família e, em simultâneo, dar espaço (temporal e emocional) ao casal e ao filho mais novo para para se ajustarem à nova realidade familiar é fundamental para o bem-estar de toda a dinâmica familiar, e para que os pais consigam criar as melhores condições, de modo a dar resposta às necessidades do recém-nascido e continuar a acompanhar o mais crescido.
Como pode então a família alargada ajudar sem ser intrusiva?
De forma simples, o apoio da família revela-se particularmente útil sob a forma de disponibilidade para auxiliar o casal naquilo que este considerar importante. E de que forma pode o casal ajudar-se sem se isolar? Pedindo apoio e aceitando a disponibilidade dos outros para ajudar. Desenvolver novos laços emocionais, dar segurança ao bebé, protegê-lo, ajudá-lo a regular-se fisiológica e afectivamente, estimular, brincar e ensinar o bebé a desenvolver o auto-controlo… O momento da chegada de um bebé não é, efectivamente, o momento ideal para se querer ser “super-mãe, mulher, dona de casa, profissional, amiga…”. Ou, se pensarmos no pai, deixemos também de lado a imagem dos super-heróis. Por isso, deleguem tarefas específicas em casa (o irmão mais velho ficar responsável, por exemplo, por organizar a roupa ou fazer a lista das compras), e peçam ajuda para assuntos que tenham de ser resolvidos fora de casa (como pedir aos avós que passem no supermercado a comprar o pão para o dia seguinte). Deste modo, o casal ganhará tempo e espaço para se dedicar aos filhos, ao casal em si e à individualidade de cada um dos elementos. Sim, reforço esta ideia. Uma mãe (e um pai, claro) não deixa de ser pessoa. A prevenção da depressão pós-parto também acontece no pós-parto. Sabe-se que o apoio do marido é importante nesta prevenção. Outro dos factores determinantes é a mãe mimar-se e rodear-se de apoio para se poder cuidar. Um banho relaxante, sem banda sonora de choro, uma caminhada de mão dada à beira mar, um jantar romântico fora de casa ou uma saída com amigas são formas de a mãe se mimar. E se em algum momento a palavra “culpa” pairar, lembre-se de que os bebés sintonizam emocionalmente com os cuidadores, pelo que uma mãe que cuida dela é uma mãe mais disponível para cuidar do seu bebé. Peçam ajuda naquilo que realmente precisam. É importante que se foquem no essencial e “poupem recursos”. Peçam a um familiar que faça as compras urgentes do supermercado e as leve a casa, a outro que prepare algumas refeições que possam ser congeladas, a um que passe a roupa a ferro, a outro que fique em vossa casa com o bebé durante umas horinhas para que possam tomar um banho relaxante e dormir um pouco de forma tranquila e sem sobressaltos… Sejam flexíveis.