Pais&Filhos | Preparar a chegada do irmão(ã) #2
09.02.16 | Vera Dias Pinheiro
Ela chama-se Sofia, é naturalde Setúbal, e um dia resolveu partir à aventura por terras britânicas, semsaber como isso viria a mudar a sua vida. Conheceu o "camone", comoela própria diz e depois de muitas aventuras, apaixonaram-se, tiveram uma filha,casaram, tiveram o segundo filho, depois um gato e a vida destes Pais com P grande continua a ser uma aventura e uma inspiração para muitos.
Convidei a Sofia a falar-nos de como foi a chegada do segundo filho, as alterações, a adaptação dafilha mais velha, as dificuldades e as MARAVILHAS. Fiquem para ler.... vale apena!
- A segunda gravidezfoi planeada?
(SOFIA) Fiquei grávida do Tiago nodia do nosso casamento, dia 5 de Maio de 2012. A Gabriela, a menina das alianças,tinha na altura pouco mais do que dois anos. Foi uma gravidez propositada.Ambos sentimos que era a hora certa para um segundo filho.
A gravidez foi longa, com náuseas e vómitos todos os dias,durante os nove meses. O mesmo tinha acontecido com a gravidez da Gabriela; adiferença da segunda vez é que tinha (também) uma criança pequena para cuidar eentreter, ao mesmo tempo que tentava sobreviver à constante má disposição, àsdores nas costas, e, mais no final da gravidez, ao cansaço permanente (pus 23kgna segunda gravidez). Sem qualquer ajuda da família, porque vivemos longe dasnossas, não foi nada fácil, mas sempre fui muito consciente de que era umagrávida saudável, que carregava um bebé saudável, que tinha uma filhalinda de dois anos muito saudável, pelo que isso, foi sempre o meu mantradurante os nove meses de gravidez. Isso e o livro Calm birth doautor Robert Bruce Newman - a minha biblía da gravidez e preparaçãopara o parto.
O parto da Gabriela foi longo, ela nasceu trinta e seis horasdepois das águas terem rebentado. Só fomos para o hospital duas horas antes, efoi um parto natural. Eu queria muito que ela tivesse nascido em casa, mas naárea onde vivíamos na altura, o sistema de saúde público não apoiava partos emcasa. Saímos do hospital 16h depois.
Durante a gravidez do Tiago senti-me muito mais segura paratomar as minhas decisões para o parto que sempre sonhei, e pus na cabeça queele ia nascer em casa. Estudei muito. Meditei muito. Fiz de mim um forte econsegui alienar-me de tudo e todos os que tinham uma opinião sobre as minhasescolhas. Toda a gente tinha uma opinião, como acontece muitas vezes nestaaltura tão importante das nossas vidas. Tivemos a sorte de que nessa altura, em2013, e no lugar onde vivíamos, o sistema de saúde na Inglaterra tinha começadoa incentivar mães saudáveis com bebés saudáveis a parirem em casa, e por issotive todo o apoio das parteiras. Preparei o pai para o grande dia. Ele já tinhatido um papel muito activo no nascimento da Gabriela, pelo que desta vez eraapenas uma questão de se lembrar onde estavam as toalhas (que depois, nomomento, não se lembrou), e de me ajudar a cumprir este sonho de parirmos onosso filho em casa (nessa tarefa ele foi excelente!). Preparei também aGabriela porque não queria que ela ficasse assustada com os detalhesesteticamente menos bonitos de ter um bebé. Vimos muitos vídeos online e fotos.Ela sabia que ia haver sangue, ela sabia que a mãe poderia eventualmente gritarou chorar, mas que tudo era normal e parte do processo para o irmão delanascer.
O Tiagonasceu no dia 7 de Fevereiro, numa noite com temperaturas abaixo dos 0 graus, à1h30m, 41h após as águas terem rebentado, dentro de uma piscina insuflável,montada pelo pai na nossa sala de estar. A Gabriela estava sentada no sofá, nomeio das duas parteiras que nos vieram apoiar, a comer um biscoito dechocolate, e a contar-lhes sobre a nossa visita ao museu de história natural.Eu estava dentro da piscina, completamente focada em respirar ao ritmo damúsica de Tai-Chi que tocava no YouTube, com a cabeça caída sobre os braçoscansados. O pai, também dentro da piscina, pálido de cansaço (os pais cansam-sesempre mais nestas alturas :) ), massajava as minhas costas. O Tiago nasceuentre as gargalhadas de todos (entre contracções eu não conseguia parar de rirdas coisas que a Gabriela se lembrou de dizer naquela noite), num ambientemuito mais calmo e pacífico do que o que eu poderia alguma vez ter imaginado. Opai trouxe-o à tona da água, e ele nem chorou porque não percebeu que tinhanascido. Olhou-nos nos olhos profundamente. Ficámos ali os quatro, abraçados,demorados, com a Gabriela agarrada aos nossos pescoços de tanta alegria.Finalmente ela conhecera o bebé que viveu tanto tempo na barriga grande da mãe.Tudo foi tão simples, tão natural, e tão precioso.
Namadrugada desse dia uma outra parteira veio buscar a placenta do Tiago para serdissecada e transformada em medicamentos homeopáticos (que ainda hoje tenho euso regularmente). Fez-me também um batido que não sabia a outra coisa senãofrutos do bosque (mas sim, continha também um pedacinho minúsculo da placentaque alimentou o meu filho durante nove meses). Acredito que o batido ajudou-mebastante a recuperar a minha energia, depois de um parto tão longo e doloroso.Tanto, que no dia seguinte ao nascimento do Tiago, levei-os aos dois ao parque,sozinha. O Tiago no sling e a Gabriela na trotinete dela. Lembro-me de estarreceosa, mas senti que tinha de retomar a minha vida normal para o bem estar daGabriela. O parque era mesmo ali, a dois minutos a pé da nossa casa, mas erauma situação completamente nova para mim, e tinha dado à luz há apenas umashoras atrás. Estava exausta e dorida, mas também eufórica e feliz de ter doisfilhos tão perfeitos. Foi mais uma daquelas situações na vida em que temos demorder o lábio e tomar coragem. Não são as situações que nos aprisionam, são osnossos medos dessas situações. Uma vez no parque, os medos desapareceram. Deide mamar ao Tiago enquanto observava a Gabriela a brincar no escorrega. Tudopareceu tão normal.
- Como prepararam a Gabriela para a chegada doirmão? E como é a relação entre eles?
(SOFIA) Aindahoje a Gabriela se recorda do dia em que o irmão nasceu, na nossa sala deestar. Ainda hoje ela se lembra da mãe tirar leite da mama e pôr no biberonpara ela dar ao mano que chorava com fome. Fiz questão que desde o primeirominuto a Gabriela sentisse que o irmão não lhe vinha "tirar o lugar",mas sim preencher ainda mais as nossas vidas com coisas boas. Ela sempre meajudou a dar banho ao mano, a mudar a fralda, a escolher as roupas, e éincrível o instinto maternal que ainda hoje ela tem para com ele. Hoje o Tiagotem quase 3 anos e a irmã é quem o ajuda a abotoar os botões da camisa e acortar-lhe o bife no prato. São mais do que irmãos, são os melhores amigos umdo outro.
- Quaisos vossos conselhos/dicas para quem está à espera de um segundo filho - seé que podem existir?
(SOFIA) A vidamuda muito com o nascimento de um segundo filho, e a verdade é que nada nemninguém nos prepara para essas mudanças. Depende de nós e das vidas quevivemos, da forma como encaramos as fragilidades da vida e os desafios. Nósmesmos mudamos muito com o nascimento de um segundo filho, a forma como somosmães/pais, é diferente. As rotinas, as expectativas, a dinâmica familiar, tudose alinha com as necessidades de uma nova vida. Lembro-me que até o Tiago terdois meses de idade, me senti muitas vezes meio perdida em algumas situações,mas ajudou-me muito constatar que na vida temos de aceitar o que nos chega àsmãos, de forma natural. E para mim esse tem sido sempre o segredo, aceitar quetudo é diferente, por vezes mais caótico, por vezes, mais desarrumado, por vezesmais cansativo, mas sempre, sempre, muito mais feliz.
Sofia, quero agradecer-te teres aceite este desafio de imediato - eu bem sei como o tempo nem sempre sobra ao final do dia. Não me canso de ler as tuas palavras, especialmente por estar a viver uma segunda gravidez já tão próxima do fim. Obrigada <3
Convido-vos a todos a acompanharem as aventuras desta família com um "F" GIGANTE no facebook e no seu blog.