Life&Style | Os desafios de quem trabalha em casa!
20.01.16 | Vera Dias Pinheiro
Acordamos todos à mesma hora - invariavelmente, somos acordados sempre antes do despertador dar sinal de vida - e conseguimos tomar o pequeno-almoço todos juntos e sem correrias para a casa-de-banho - enquanto o pai se despacha, eu despacho o Vicente. Na hora de saída, pai e filho saem de casa juntos e felizes por conseguirem aproveitar mais um pouco do tempo juntos - ao final do dia , não é certo que o pai chegue a tempo de ainda conseguir brincar com o Vicente.
Depois de saírem, é a minha vez de passar a ronda pela casa, arrumar o que ficou desarrumado, só depois me sento ao computador, acompanhada por uma chávena de chá e pela To do List do dia, imprescindível. Estou certa que devemos pertencer à percentagem mais pequena de famílias que começa o dia a horas mais ou menos normais; que não enfrenta filas de trânsito com os filhos e que não os deixa para o prolongamento da escola, já para não falar que o nosso stress matinal é bem relativo.
Penso que hoje em dia, a sociedade - e as mentalidades - têm que estar preparadas para aceitar modelos de família cada vez mais heterogéneos, o que na minha opinião acaba por ser uma causa e uma consequência dos tempos que hoje se vivem, isto é, da própria conjuntura económica e social.
Quando se trata da maternidade, é muito fácil ouvirem-se as mais diversas opiniões, especialmente sobre a forma como cada um deve fazer as suas próprias coisas e as decisões que toma. No entanto, a decisão de ter filhos é, nos dias de hoje, uma decisão muito pessoal - muitas vezes, como reflexo da própria situação profissional - e a decisão de ter mais que um filho é, em grande parte, fruto de uma decisão baseada no aspecto financeiro - sim, porque ter filhos também tem um preço. E, depois, quando finalmente, decidimos avançar, deparamo-nos com mais decisões difíceis: a educação e o tempo que temos para educar os nossos próprios filhos.
Por isso, e porque ainda somos livres de decidir aquilo que achamos ser melhor para a nossa família e aquilo que estamos ou não dispostos a mudar por ela, há cada vez mais famílias a reinventarem-se para conseguir dar o apoio e a atenção que as crianças requerem. Talvez por aí se explique o facto de surgirem cada vez mais mulheres - que foram mães - empreendedoras, a iniciar projectos pessoais, muitos deles que lideram a partir da sua própria casa, o que lhes permite uma outra gestão e liberdade de horários e, consequentemente, uma maior compatibilidade com os próprios horários dos filhos, que num outro emprego com horário fixo é muito difícil de conseguir.
Mas trabalhar em casa tem também o outro lado da moeda, aquele que exige uma enorme disciplina e regras para não corrermos o risco de andar nos extremos: o de passar a trabalhar a toda a hora ou o de não conseguir trabalhar o suficiente, pois as distracções com as obrigações de uma casa, são muitas.
Como em tudo, existem sempre vantagens e desvantagens:
Vantagens:
- Proximidade com a família;
- Alimentação mais saudável;
- Liberdade de horários;
- Evitam-se as correrias e o tempo que passamos no trânsito nas horas de ponta;
- Poupança no orçamento familiar.
Desvantagens:
- Possibilidade de excesso de carga de trabalho;
- Indefinição entre os horários de trabalho e os de lazer - daí ser muito importante haver um planeamento e disciplina;
- Pode levar a algum isolamento social;
E, depois, são também precisos alguns requisitos para se trabalhar em casa, como por exemplo:
- Ter um espaço de trabalho seu, um canto separado do resto da agitação da casa, onde seja possível concentrar-se e conseguir abstrair-se do barulho da máquina que acabou de lavar, no momento em que se sentarem ou para não ver os brinquedos que ficaram espalhados pela casa;
- Prestar atenção ao vosso local de trabalho: a cadeira onde se sentam, à secretária e às pequenas coisas que poderão necessitar para se sentirem bem e serem produtivos;
- Tentar estabelecer horários para as vossas tarefas;
- Cuidar da nossa aparência, não precisamos andar vestidas de forma institucional, mas também não precisamos passar o dia de pijama (mas se um dia nos apetecer, porque não? afinal, essa liberdade é outra das vantagens de se trabalhar em casa);
- Manter o contacto com alguém fora do nosso ambiente, falar! Evitem passar grande parte dos dias em silêncio e comunicando com "o mundo" apenas através de e-mail;
- Por fim, e dependendo da natureza do trabalho, é possível que muitos dias sintam que estão a trabalhar para o vazio e sem qualquer tipo de retorno, por isso, é muito importante acrescentar aqui uma boa dose de persistência.