Os Vs | Aprender que seremos sempre a melhor mãe que os nossos filho poderão ter!
18.10.15 | Vera Dias Pinheiro
Este sábado estive presente na clínica Amamentos, a propósito da semana aberta, para partilhar a minha experiência com a amamentação, num grupo de partilha de mães. Quando o convite me foi feito, apesar de não ter hesitado por um segundo em aceitar, questionei-me se seria a minha experiência uma boa história para partilhar; se seria a história que outras mães quereriam ouvir; se uma história que não correu como seria de esperar e se eu só consegui amamentar durante quatro meses - a muito custo - se seria aquilo que outras recém-mães ou futuras mamãs estariam preparadas para ouvir...
Mas eu também aprendi que uma mulher/mãe tende a guardar apenas para si o lado menos cor-de-rosa da maternidade, ou por medo de falhar, ou por receio do que as outras pessoas irão pensar ou, simplesmente, por se esperar que a mulher esteja sempre bem e saiba sempre o que fazer em cada momento. Neste sentido, percebermos que, quando as coisas não acontecem by the book, não estamos sozinhas, que houve alguém já passou por isso e que já sentiu as mesmas angústias e frustrações, pode ser uma ajuda para não nos deixamos isolar ou de procurar ajuda - mas a ajuda certa. A verdade é que quando nos tornamos mães, começamos a ouvir uma série de comentários e de opiniões de toda a gente que está à nossa volta e, por vezes, até de pessoas que não nos são próximas; são pessoas que comentam exclusivamente a partir da sua experiência pessoal; pessoas que se acham especialistas nos filhos dos outros; pessoas que não o fazem por mal, mas pessoas que, no fundo, prejudicam a comunicação entre mãe e filho logo nos primeiros meses de vida.
Eu achava que amamentar seria automático, bastava querer - e eu queria muito - para que tudo fluísse e para que a mãe natureza pudesse cumprir o seu papel. No entanto, comigo não foi assim, demorou tempo, foi complicado, fiquei insegura e ansiosa e tudo ia ficando cada vez menos natural e mais stressante e eu, cada vez mais, ansiosa e com medo... medo de falhar; medo por não ser capaz de dar ao meu filho o melhor alimento que ele podia ter; medo por achar que a nossa ligação estivesse "em risco", medo... medo... Ao qual se juntava ainda a ansiedade cada vez que chegava o momento da pesagem e da "ditadura" a que estamos sujeitas: os percentis.
No entanto, com todo este ruído à minha volta, eu não estava a conseguir perceber o fundamental e o mais importante para a minha relação com o meu filho e, especialmente, para o seu bem-estar; eu estava demasiado concentrada nos outros e isso não me deixava estar em paz e em tranquilidade para conseguir passar isso para o meu filho, para que ele se acalmasse e sentisse que estava tudo bem. Mais do que não conseguir alimentar o meu filho, estava a deixar passar-lhe todos os meus sentimentos negativos, todo as energias de fora. Um bebé feliz precisa, acima de tudo, de uma mãe feliz, um bebé seguro precisa, acima de tudo, de uma mãe confiante de que vai sempre fazer o que é melhor para o seu filho e que não deixa que as opiniões de terceiros a abalem ou a façam duvidar das suas capacidades.
No dia em que deixei de sofrer e de me obrigar a uma coisa que não estava a resultar e que estava a colocar em causa tudo o resto, no dia em que deixei de ouvir o mundo inteiro e resolvi ouvir apenas a pessoa que mais importa na minha vida, tornei-me uma pessoa muito mais feliz e o meu bebé também, tirei de cima de mim um peso enorme e consegui a paz que tanto precisava. Consegui ainda ter aqueles momentos especiais entre mãe e filho enquanto ele mamava do biberão, segurando na mão dele e fixando um olhar que diz tudo, sem precisar de uma única palavra. Consegui fazer as pazes comigo mesma, e consegui entender que o que faz de mim uma boa mãe não é o tempo que dou de mamar, mas conseguir dar sempre o melhor de mim ao meu filho.
E por todos estes motivos talvez até faça algum sentido fazer passar a minha mensagem, talvez faça ainda mais sentido se isso ajudar outra mãe a ser mais feliz, não se sentido sozinha, se a sua história não for como todas as histórias bonitas que ouvimos e que nos fazem idealizar o parto e a amamentação como algo de perfeito.
Quero deixar aqui um sentido agradecimento à enfermeira Carmen Ferreira por me ter convidado e à Clínica Amamentos, onde fui muito bem recebida e onde me senti imediatamente em casa. E, claro, obrigada ao senhor meu marido (que tirou estas fotografias), ao meu querido filho (que se portou muito bem, tendo em conta o sono) e à minha mãe (que vem sempre pronta a ajudar-nos em tudo o que é preciso) por terem estado presentes.
Clínica Amamentos
R. Professor Simões Raposo, nº 13 E
1600-660 Lisboa (Telheiras)
Relembro que a clínica Amamentos é um espaço concebido a pensar única e exclusivamente na mulher que está grávida e/ou que acabou de ser mãe. Ali podem contar com especialistas em diferentes áreas, prontos para nos ouvirem, prontos a ajudar-nos, prontos a libertarem-nos dos preconceitos e a deixarem-nos conhecermo-nos melhor a nós e ao nosso bebé. Para além disso, todo o espaço físico em si é propício a uma serenidade e tranquilidade que nos ajuda a relaxar assim que entramos porta a dentro.