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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Vamos mandar a chucha embora?

06.08.15 | Vera Dias Pinheiro


A seguir ao desfralde, o que se segue é retirar a chucha. 

Das histórias que ia ouvindo, pensava que este poderia ser um processo um pouco complicado, na medida em que as crianças (incluindo o Vicente) encontram na figura da chucha a forma de:
  • se acalmarem;
  • se adaptarem a situações novas e desafiantes;
  • suportarem uma dor;
  • superarem uma tristeza ou o cansaço;
  • satisfazerem as suas necessidades de sucção. 

No entanto, a minha experiência enquanto mãe - que embora possa ser curta, já me tem ensinado algumas coisas - diz-me que são as próprias crianças, dentro do seu percurso natural de crescimento, que acabam por nos dar os sinais que precisamos e isso torna todos estes processos de "passagem de bebé a criança" menos problemáticos e mais suaves.

Quando preparei a mala da maternidade, eu fui daquelas mães que optou por não levar uma única chucha consigo. E, mesmo que os próprios enfermeiros fossem os primeiros a ficarem pasmados por eu não ter uma chucha para oferecer a um recém-nascido, que mal abria os olhinhos e que a única coisa que precisava era de sentir o calor da sua mãe e de ser alimentado por ela, eu resisti e durante os longos dias que lá passei - o Vicente nasceu de cesariana - não houve chuchas para ninguém. Mas, se eu achava que aquela minha atitude ia ter influência na sua relação futura com a chucha, nomeadamente evitando alguma dependência da mesma, isso não aconteceu! 

O Vicente sempre foi um bebé de chorar muito e muito, muito alto, rapidamente começou a andar de avião, de um lado para o outro, mudou de país e de casa... e a chucha, aos poucos e poucos, foi ganhando terreno e poder sobre o meu filho! E assim tem sido até aos dias de hoje. No entanto, como qualquer outra dependência, chega a uma altura em que a chucha é pedida apenas porque sim, por mero hábito. Quando entrou para a creche e, como passado uma semana já estava na sala dos mais crescido, comecei a reparar que assim que o deixava na entrada, ele largava a chucha e o seu ó-ó e corria para ir ter com os amigos. Tal como um sinal de afirmação e de que, apesar de ser o mais novo, ele é tão crescido como os seus amiguinhos e, como tal, também já não precisa de chucha. 

Para mim, estas pequenas atitudes têm funcionado como pequenos sinais, que eu vou observando e que vou aproveitando para começar a distraí-lo do uso chucha. Para a escola já não a leva consigo (ele próprio só se lembra dela caso a veja) e quando o vou buscar - altura em que realmente me pede a chucha - eu explico que ficou em casa e que tem que esperar e rapidamente, com a idas ao jardim, ao parque ou apenas ao supermercado, ele acaba por se esquecer.

Sei que o Vicente vai ter que deixar a chucha em breve, que quando for para a escola nova, em Setembro, o ideal era já não a levar consigo, porém não ando stressada com os timings, nem a magicar planos para acabar com ela de vez.

Porém, convém não esquecer que o uso prolongado e excessivo da chucha é prejudicial para as crianças, nomeadamente, porque pode causar:
  • má oclusão dentária e problema na arcada;
  • efeitos adversos na dentição;
  • aumento da incidência de otites médias agudas e de outras infecções;
  • E, ainda, ao mantém a boca da criança numa forma muito pouco natural, dificulta o desenvolvimento dos músculos da língua e dos lábios. O que acaba por trazer consequências negativas à aprendizagem da fala.



E, embora o ideal seja que a criança deixa a chucha por sua iniciativa, porque essa sua necessidade deverá diminuir á medida que vai crescendo, às vezes é necessário recorrer a algumas estratégias e alguns truques que podem facilitar este processo. Aqui ficam algumas dicas: 


1. Tentar aos poucos. 

Reduzam o tempo que a criança fica com a chucha, espaçando os intervalos, e passem a restringi-la aos momentos críticos do dia: a hora de dormir; quando está doente... E sejam firmes!

2. Façam uma troca ou atribuam um prémio. 
Substituam a chucha por algo que a criança goste e, pela qual, sinta interesse. E, se optarem por premiar a criança, prefiram as brincadeiras, os passeios, os privilégios, os adesivos ou presentes simples. Evitem que os doces, bolachas, rebuçados e afins sirvam como prémio! 
3. Ela está a crescer.
Reforcem a ideia de que as crianças mais velhas não usam chucha. Elas adoram sentir-se mais crescidas.
4. Oferecer as chuchas.
Incentivem a criança a dar todas as chuchas a alguém - pode ser ao Pai Natal ou ao Coelhinho da Páscoa ou até mesmo deixá-la na árvore das chuchas, na Quinta Pedagógica dos Olivais. E, se a criança o fizer, façam de tudo para que não volte a atrás. 
5. Sejam persistentes. 

Se um dia a criança resistiu, tentem novamente no dia a seguir. Reforcem que ela não precisa mais da chucha.

6. Marquem o dia. 
Combinem um dia oficial para tirar a chucha de vez. E não voltem atrás. É importante ir avisando a criança que o dia está a chegar, para que ela própria se vá habituando à ideia e o vá interiorizando.
7. A hora de dormir.
Invistam na rotina da hora de dormir: anunciem uma mudança (a mudança de cama, um novo hábito, de ouvir música ou contar histórias de um livro, por exemplo) e expliquem que nessa nova rotina - de criança crescida - não há espaço para a chucha. O entusiasmo com a novidade pode ajudar.


Mas lembrem-se que, como em tudo, cada criança tem a sua personalidade e que nada deve ser imposto. A retirada da chucha, tal como, por exemplo, o desfralde, devem acontecer naturalmente. O nosso papel é perceber quando é que o nosso filho ou filha está preparado e que, quando avançarmos, devemos ser persistentes.

Boa sorte!




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