O meu filho não quer comer e agora?!
20.07.15 | Vera Dias Pinheiro
Até aos dois anos as crianças não costumam oferecer resistência aos alimentos (regra geral, é claro). Comem de tudo, nas sopas ou nas papas, no entanto, quando no prato começam a aparecer os legumes e os vegetais tal como eles são, juntamente com a carne ou peixe e com o arroz, batatas ou massa, pode começar a surgir alguma resistência da parte das crianças em aceitar esses alimentos fora daquilo a que estão habituados. Por outro lado, à medida que vão crescendo vai sendo igualmente inevitável o seu contacto com pequenos alimentos industrializados, que têm um sabor muito mais acentuado (e apetecível) que os legumes e mais doce que a fruta.
Todos estes factores misturados podem tornar a hora da refeição um pouco mais stressante do que era habitual até aqui. Contudo, por vezes, o desafio está em nós aprendermos a lidar com a situação mudando um pouco a nossa postura e aquilo que os próprios filhos já esperam dos seus pais.
A partir desta idade, o nosso exemplo passa a ser também determinante no comportamento deles. Por isso, penso que uma forma de contornar tudo isto, poderá ser fazermos um esforço por controlar aquilo que entra em casa, por exemplo, se houver sempre pães integrais e produtos hortícolas frescos, as crianças acabam por ter menos oportunidades de pedir outras coisas e, aprendem, facilmente a perceber o que devem comer. Outro aspecto importante é a hora das refeições, quando a criança se senta à mesa e observa a forma como os seus pais se alimentam, se comermos bem isso vai encoraja-los a consumir igualmente esses alimentos saudáveis.
No entanto, quando nada disto for suficiente, as boas notícias são: se, por volta dos 2 anos, a criança passa a estranhar alguns alimentos, essa é também a altura em que começa a exercitar a sua fantasia e imaginação. Consequentemente, o que nós devemos fazer é aproveitar isso e fazer da hora da refeição um momento divertido e cheio de imaginação: inventar uma história, criar um jogo, etc.
Sugestão: uma receita pode transformar-se numa poção mágica e o papel das crianças vai ser adivinhar o conteúdo de cada colherada.
Ou então, deixar a criança brincar com os alimentos, por exemplo, deixá-la ver que a cenoura é cor-de-laranja, sentir a textura da sua casca e observar a sua preparação antes de ir para o prato.
No fundo, é deixar as crianças divertiram-se e aguçarem a sua curiosidade, pois isso pode levá-las a comer melhor.
Depois existem outras coisas que podemos fazer e que podem ajudar os nossos filhos a comerem melhor e comer de tudo, tais como:
1. Incluir, nasrefeições, alimentos que a criança pode agarrar com as mãos: cenoura baby,tomate-cereja, espiga de milho, hortaliças cortadas em palito, etc;
2. Coloquem osalimentos, que compõem a refeição, separadamente no prato. Eles devem ter cores etexturas diferentes;
3. Deixem a criança servir-se sozinha e provar cada uma dasdiferentes porções;
4. Não cozinhem demais os legumes. Quando estão crocantes, alémde serem mais interessantes visualmente, porque mantêm a forma e as cores ficammais vivas, eles são também muito mais saborosos;
5. Faça desenhos em cima do puré. Nada de complicado: pode ser um círculo ou uma espiral com ervilhasfrescas ou congeladas;
6. Quebrem a rotina variando o modo de preparação de cadaalimento: um dia sirvam cru, outro em forma de bolinhos, ou refogado, cortado emrodelas, ralado etc;
7. Nenhumalimento é insubstituível. A criança não gosta de cenoura? Ofereçam abóbora,mamão ou outros vegetais amarelos e alaranjados e as fontes de vitamina A estãogarantidas;
8. Não sirvam ao jantar o mesmo que deram ao almoço. Se quiserem reaproveitaros restos, reinventem as combinações.
9. "Raspar" o prato não é uma coisa obrigatória nem necessariamente desejável. Não obriguem o vosso filho aisso.
10. O ambiente da refeição deve sertranquilo, sem TV, música e muito menos berros. Deixem as conversas sérias e os sermões para depois. Todas as refeições (lanches inclusive) devem ser feitas àmesa;
11. Levem as crianças para a cozinha. Quando são elasmesmas a preparam os alimentos, certamente vão querer provar o que fizeram. É umaexperiência lúdica e prazerosa, como deve ser a relação com a comida.
12. Envolvam os vossos filhos na compra dos alimentos e, se puderem, visitem os mercados com eles. As frutas e os legumes são comprados sempre que possível no mercado e o Vicente já pede uma moeda para ir comprar uma fruta que ele próprio escolhe e quer. Acaba por ser muito divertido;
13. Se o vosso filho diz que não gostade um alimento que não conhece, proponham que ele prove um pedaço (tem de serpequeno) e, se não gostar, não precisa comer. Deixem passar algum tempo e voltem a oferecer, pelomenos por mais cinco vezes, em ocasiões e formas de preparação diferentes;
14. Aproveitem para preparar as comidas que as crianças mais gostam de forma mais saudável.
Mas, por vezes, a única coisa que temos que fazer é dar-lhes tempo, pois o paladar das crianças muda com o tempo e um alimento que hoje rejeitam, pode passar, mais tarde a ser um dos seus preferidos.