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As viagens dos Vs

Mulheres nutridas, famílias felizes

As viagens dos Vs

Mães e pais: este convite é para vocês!

22.05.15 | Vera Dias Pinheiro
Para quem não se lembra como este consultório sobre parentalidade começou, vejam tudo aqui.
E relembro que a Dra. Ana Guilhas, Psicóloga responde às minhas perguntas, mas também às vossas. Não deixem de participar naquilo que, no fundo, se pretende que seja uma partilha de experiências. A minha realidade, neste momento, encontra-se muito focada nesta "crise dos dois anos", certamente que muitas das mães que lêem este blog têm filhos com outras idades, logo com outras questões e/ou dúvidas. 
Não se esqueçam que juntas podemos tornar esta espaço mais rico e até mesmo numa importante forma de ajuda nesta grande (e interminável) viagem que é sermos pais.



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Como gerir birras e gritos | Consultório da Dra. Ana Guilhas

22.05.15 | Vera Dias Pinheiro
Desde sempre que o Vicente mostrou ter uma personalidade muito forte, desde recém-nascido que os seus dotes pulmonares são reconhecidos por nós, os pais, pelos vizinhos e por todos aqueles que já tiveram o prazer de presenciar a reacção do pequeno Vicente a alguma coisa que o desagrade. Do choro estridente, passamos, à medida que foi crescendo, aos gritos.
Tanto para mim, como para o senhor meu marido, é difícil lidar com a situação, principalmente quando estamos em locais públicos, onde a nossa primeira reacção é tentar acabar com aquele espectáculo o quanto antes. Ele também sabe disso, por isso também aproveita a  situação para nos tirar ainda mais do sério.

Neste sentido, obviamente que uma das primeiras perguntar a fazer a Dra. Ana Guilhas é: "como lidar com as birras, especialmente aquelas que se fazem acompanhar por gritos muito intensos?"


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Birras com Gritos Muito Intensos
- como lidar com isso -
Antes de mais, é importante dizer que os gritos são uma manifestação frequente das birras. O grito, é na realidade uma manifestação da própria vida em si, de força, de intensidade, vitalidade e desejo de viver e ser livre. A verdade é que é para nós adultos, já "socializados" e obrigados desde cedo a controlar os nossos impulsos e manifestação emocionais, muito difícil gerir e acolher os gritos dos nossos filhos. Olhamos para os gritos como algo que incomoda, que perturba os outros e a nós mesmos. Algo intenso, que deve ser controlado desde logo. Na verdade, é uma questão cultural também. Noutros contextos culturais, os gritos fazem parte de rituais e festas. E, enquanto que por cá choramos baixinho, noutros países, um funeral sem gritos de dor bem audíveis, não é um funeral digno.
Ainda assim, não quer dizer que não possamos debruçar-nos sobre o assunto e tentar perceber se, efectivamente, é possível ou desejável fazer alguma coisa. Antes de mais, é importante começar pela prevenção (ler algumas estratégias aqui). Isso vai permitir diminuir a frequência das birras e, eventualmente,  reduzir a sua intensidade (esta última não é garantida). Em segundo lugar, é preciso entender a razão pela qual o seu filho escolhe especificamente os gritos intensos como "ponto forte" das suas birras. Podemos pôr algumas hipóteses:
É uma questão de temperamento da própria criança e está enquadrado nesta etapadas birras de forma natural.
É resultado da forma de comunicação que tem em casa. Se estiver rodeado de uma comunicação muito agressiva e com muitos gritos, a criança exterioriza depois toda essa tensão gritando ela também.
- É resultado da vivência das emoções na estrutura familiar. Por exemplo, pais que carregam emoções negativas e que as retraem no seu dia-a-dia, podem ver a criança manifestá-las no seu lugar (de forma mais descontrolada porque são demasiado pesadas para ela). Raiva, frustração e/ou depressões latentes nos pais, podem ser alguns exemplos.
- A criança grita porque resulta. Isto quer dizer que os pais, de alguma forma ou cedem ao pedido (mesmo que seja muito raramente) ou ficam focados na criança (o que é um ganho secundário da birra). Sendo assim, mesmo que o processo ocorra de forma inconsciente na criança, ela tende a usar as estratégias que são, ainda que sem querer, reforçadas pelos pais.
- Os gritos tocam numa sensibilidade natural dos pais. Estes, reagem intensa e emocionalmente, fixando, ainda que sem querer, a criança naquele comportamento. Neste caso, quer dizer que a criança encontrou algo a que os pais ou um dos pais é particularmente sensível. Este processo é inconsciente para ambos. Por um lado, a criança sente que a mãe/pai reagem de forma diferente quando surgem os gritos. E da parte dos pais, a reacção é mais intensa precisamente por ter essa sensibilidade. A causa dessa sensibilidade normalmente pertence ao passado dospais. O segredo está em perceber porque é que é tão difícil para os pais ouvir os gritos do seu filho. O que é que isso lhes recorda? Em quê que isso mexe com os adultos? Quando eram pequenos gritavam? Como reagiriam os seus próprios pais se gritasse daquela maneira? Tinham liberdade para expressar livre e intensamente a zanga e a frustração? Estes impulsos eram imediatamente reprimidos?
Há que referir que estas são algumas hipóteses, existem outras e servem apenas para que os pais possam acima de tudo perceber o que é que está em jogo naqueles momentos. Quando as causas são externas, então devem ser trabalhadas e mudadas de forma a libertar a criança de algo que não é dela. Aí passará a viver as birras de forma mais livre e dentro daquilo que lhe é natural (sim... as birras não desaparecem magicamente). Se a razão por detrás dos gritos for o temperamento da criança, e a forma como esta exterioriza a frustração, a zanga e/ou tristeza, então aí, a sugestão será ajudá-la a transformar essa forma de reagir, noutra mais "evoluída" e que a família possa aceitar melhor.
  
Fonte: Google Images
As estratégias:
1. Aceitar a criança tal como ela é e entender que naquele momento, está a lidar com emoções que ainda não consegue gerir e que a deixam destabilizada e/ou até descontrolada. Ou seja, evite gritar, insultar, ameaçar, castigar.
2. Acolher a energia que ela está a libertar através dos gritos, choro, etc. Para isso é importante perceber o que é que aquele momento representa para nós também.
3. Seja o que for que tenha decidido, proibido, negado à criança e que tenha desencadeado a situação, mantenha-se firme e não ceda. Não é isso que a criança precisa de si. Precisa sim de perceber que os pais podem ser firmes, mas sem ficarem eles mesmos destabilizados e agressivos.
4. Diga-lhe que com gritos e choro não consegue entender o que ela está a dizer e que, por isso, vai esperar que ela se acalme para poderem conversar. Diga isto de forma firme mas calma e depois evite continuar a falar (isso alimenta a continuidade e intensidade do momento).
5. Fique por perto, mesmo que decida levá-lo para o quarto por exemplo, fique com ele. Mas não interaja com a criança até que esteja mais calma.
6. Depois da criança estar calma, aí sim poderá conversar. Diga-lhe o que sentiu, e dê-lhe espaço para fazer o mesmo. Explique que quando está no momento da "birra" não consegue ajudá-lo e só pode esperar que se acalme. Que a birra não serve para que mude de ideias, mas que entende que seja a forma que tem de mostrar que está zangado. Diga-lhe que no entanto, existem outras maneiras de mostrar que se está zangado que podem ser melhores para todos.
7. No momento em que já é possível conversar com a criança, pode ser necessário dizer-lhe que a birra vai ter consequências. Estas devem ser lógicas e associadas ao acontecimento. Por exemplo, se a birra acontece de manhã porque a criança não quer desligar a televisão para ir para a escola, então pode fazer sentido que na manhã seguinte não haja televisão. Para que continue a haver, é importante que a criança faça a sua parte de a desligar na hora combinada.
Desta forma, os pais vão ajudar a que a criança, gradualmente, encontre outras formas de se manifestar. Ao mesmo tempo, é importante entender que naquele momento ela ainda tem muita dificuldade em lidar com determinadas emoções e principalmente com a frustração. Mas se os pais não cederem, vai aprender que as consegue gerir cada vez melhor. Para isso, é também importante que os pais valorizarem os momentos em que os filhos conseguem acalmar-se e/ou sempre que estes usarem outras formas de agir.
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